Todas as manhãs
acoito sonhos
e acalento entre a unha
e a carne
uma agudíssima dor.
Todas as manhãs tenho
os punhos
sangrando e dormentes
tal é a minha lida
cavando, cavando
torrões de terra,
até lá, onde os homens
enterram
a esperança roubada
de outros homens.
Todas as manhãs junto
ao nascente dia
ouço a minha voz-
banzo,
âncora dos navios de
nossa memória.
E acredito, acredito
sim
que os nossos sonhos
protegidos
pelos lençóis da noite
ao se abrirrem um a um
no varal de um novo
tempo
escorrem as nossas
lágrimas
fertilizando toda a terra
onde negras sementes
resistem
reamanhecendo
esperanças em nós.
Conceição Evaristo
Por Joanna
Alves
FONTE: SEPPIR
Criado em 25
de julho de 1992 na República Dominicana, o Dia Internacional da Mulher
Afro-Latina-Americana e Caribenha marca, internacionalmente, a luta e a
resistência da mulher negra em toda a América do Sul e Caribe. Em 2011, esta
comemoração tem seus objetivos reforçados com as celebrações do Ano
Internacional dos Povos Afrodescendentes, instituído pela Organização das
Nações Unidas (ONU).
Há 19 anos, a
história comprova que a homenagem concedida às mulheres negras é uma forma
grandiosa de retribuir sua importância para o desenvolvimento sócio-cultural
dos países latinos.
As celebrações
desta data buscam denunciar o racismo, a discriminação e as desigualdades
sociais, proporcionando a este gênero melhor qualidade de vida. Além disso, as
organizações de mulheres negras se fortalecem com esta prova de respeito e
admiração.
A trajetória
da mulher negra é marcada por inúmeros desafios, que englobam a discriminação
por gênero e por raça. Tendo de superar desafios cotidianos devido à esse duplo
preconceito, as mulheres negras, sejam elas famosas ou anônimas, são exemplos
para todos os afro-brasileiros.
Conheça abaixo
algumas dessas mulheres que se destacaram na luta pela garantia e ampliação dos
direitos das afro-latinas:
TIA CIATA
Nascida na
Bahia em 1854, Hilária Batista de Almeida (mais conhecida como Tia Ciata) foi
levada para o Rio de Janeiro aos 22 anos. Iniciada nas tradições do candomblé
ainda na capital baiana, Ciata foi uma das tias baianas no início do século 20,
mãe de santo, doceira e esposa dedicada de João Batista, com quem teve seus 14
filhos.
Por causa das
perseguições sofridas pela sociedade e pela polícia, Tia Ciata abrigou em sua
casa várias manifestações culturais e religiosas oriundas da África, na Praça
Onze – popularmente chamada de Pequena África, recanto do negro baiano no Rio
de Janeiro.
Rodas de
capoeira, batuques do candomblé, malandros do chorinho reunidos na casa da
doceira. Ao que tudo indica, o primeiro samba brasileiro foi gravado por Donga
neste pedacinho africano no Brasil.
CAROLINA DE JESUS
Nasceu em
Sacramento, Minas Gerais, mas foi em São Paulo que suas palavras de protesto e
denúncia alcançaram a sociedade dominante. Carolina Maria de Jesus coletava
papelão pelas ruas da capital paulista e, ao chegar em casa, transcrevia as
aflições vivenciadas durante o dia em forma de diário pessoal.
Mãe de três
filhos, Carolina foi descoberta como escritora por um jornalista que a auxiliou
a publicar seu primeiro livro, “Quarto de despejo”, que descreve as aflições de
pessoas que, como ela, viviam à margem da sociedade, submetidos à crueldade da
elite.
Depois de ter
seu trabalho reconhecido pelo público, Carolina de Jesus agia com a mesma
simplicidade de antes, o que não foi bem visto pela sociedade. Em alguns anos,
a jovem escritora negra retornou à antiga condição social, desta vez, como
representante da luta pela emancipação feminina.
Quando morreu
aos 62 anos, Carolina estava em situação de miséria, a mesma que a marcou desde
o início de sua trajetória. Por isso, é considerada ícone da ascensão social
das classes menos favorecidas.
ANTONIETA DE BARROS
Jornalista,
escritora, educadora e parlamentar, a jovem catarinense foi a primeira mulher
negra a assumir uma vaga na Assembleia Legislativa de Santa Catarina em um
período que o gênero não tinha espaço político e social com representação.
Anualmente, a
Assembleia Legislativa do estado premia mulheres que defendem os direitos da
mulher catarinense, com a Medalha Antonieta de Barros. Além desta homenagem,
Antonieta também teve seu nome dado a um túnel da Via Expressa Sul, em
Florianópolis.
Aos 51 anos,
Antonieta deixou um legado de conquistas histórias para a sociedade negra
brasileira.
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