Maria Mazzarello Rodrigues, conhecida como Mazza,
trabalha inserindo a parcela negra da sociedade como protagonista na
literatura brasileira
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O mercado de livro voltado às crianças negras está em franca expansão!
Há 30 anos, Maria Mazzarello Rodrigues, conhecida como
Mazza, trabalha inserindo a parcela negra da sociedade como protagonista na
literatura brasileira. Fundadora de uma editora que leva seu apelido,
localizada em um bairro da região leste de Belo Horizonte, Mazza se encantou
com a diversidade de publicações votada para a etnia negra existente na Europa
durante o período que fazia mestrado em editoração na Universidade de Paris.
Quando voltou ao Brasil, em 1981, lançou a editora. “Foram 24 anos de muito sufoco,
apenas em 2003, que a literatura passou ser obrigatória, é que a situação
começou a melhorar. Somente depois da lei, as grandes editoras lançaram um selo
negro”, diz Mazza que, como toda negra, sentiu na pele o que é ser uma criança
e não se identificar com nenhum personagem. A falta de referência foi o que a
impulsionou a entrar no mercado. “Nós entramos pelas portas do fundo, mas há
ainda muito que se fazer, pois apenas dez estados brasileiros cumprem a Lei 10.639” , afirma. A
obrigatoriedade da lei, no entanto, é vista também como uma grande
oportunidade. “Todo aparato que até pouco tempo tínhamos vinha com a
predominância branca e com traços europeus, não vejo a Lei 10.639 como
obrigatoriedade, mas como uma oportunidade para as crianças negras que hoje
podem interagir muito mais. Paralela à obrigatoriedade, está a oportunidade de
quebrar esse preconceito”, declara a educadora Iris Amâncio.-
O casal Andréia Aparecida e Celso Augusto, com os filhos Vitória, Guilherme e João
EDUCAR COM BONS LIVROS
Chico Juba é um menino corajoso feito um leão. Ele é um grande inventor de xampus que pretende solucionar as incríveis reviravoltas de suas mechas. Seus esforços mostram para as crianças a incrível descoberta que podemos ter, sendo quem somos. A obra é de Gustavo Gaivota, que conseguiu transformar experiências negativas, vividas por crianças de cabelos crespos em uma grande aventura. “Todas minhas obras abordam as questões das diferenças, é o que me move”, diz o escritor. Os livros são absorvidos por pessoas como o professor Leandro Duarte, de 28 anos, que adora comprar publicações que apresentam a questão racial. Para ele, trabalhar com a diversidade é essencial em sua profissão. “O professor tem que fortalecer essas informações junto aos alunos. Na infância, o olhar lançado sobre o negro e sua cultura, tanto pode valorizar identidades e diferenças quanto estigmatizá-las, discriminá-las, segregá-las e, até mesmo, negá-las”, explica. Anderson Feliciano, autor de A verdadeira estória do Saci, acrescenta que é fundamental repassar para as crianças que elas podem, sim, contar sua própria história. “Eu quero que elas se identifiquem com os personagens e não se sintam excluídos como me senti na infância.” Para o ilustrador e escritor de livros infantis étnico-raciais, Rubem Filho, é necessário extinguir da literatura infantil o complexo de senhor e escravo. Ele parte do princípio da igualdade e quer mostrar para as crianças que elas têm todos os motivos para se orgulhar de serem negras.
Chico Juba é um menino corajoso feito um leão. Ele é um grande inventor de xampus que pretende solucionar as incríveis reviravoltas de suas mechas. Seus esforços mostram para as crianças a incrível descoberta que podemos ter, sendo quem somos. A obra é de Gustavo Gaivota, que conseguiu transformar experiências negativas, vividas por crianças de cabelos crespos em uma grande aventura. “Todas minhas obras abordam as questões das diferenças, é o que me move”, diz o escritor. Os livros são absorvidos por pessoas como o professor Leandro Duarte, de 28 anos, que adora comprar publicações que apresentam a questão racial. Para ele, trabalhar com a diversidade é essencial em sua profissão. “O professor tem que fortalecer essas informações junto aos alunos. Na infância, o olhar lançado sobre o negro e sua cultura, tanto pode valorizar identidades e diferenças quanto estigmatizá-las, discriminá-las, segregá-las e, até mesmo, negá-las”, explica. Anderson Feliciano, autor de A verdadeira estória do Saci, acrescenta que é fundamental repassar para as crianças que elas podem, sim, contar sua própria história. “Eu quero que elas se identifiquem com os personagens e não se sintam excluídos como me senti na infância.” Para o ilustrador e escritor de livros infantis étnico-raciais, Rubem Filho, é necessário extinguir da literatura infantil o complexo de senhor e escravo. Ele parte do princípio da igualdade e quer mostrar para as crianças que elas têm todos os motivos para se orgulhar de serem negras.
"TODO
APARATO QUE ATÉ POUCO TEMPO TÍNHAMOS VINHA COM A PREDOMINÂNCIA BRANCA E COM
TRAÇOS EUROPEUS, NÃO VEJO A LEI 10.639 COMO OBRIGATORIEDADE, MAS COMO UMA
OPORTUNIDADE PARA AS CRIANÇAS NEGRAS QUE HOJE PODEM INTERAGIR MUITO MAIS.
PARALELA À OBRIGATORIEDADE, ESTÁ A OPORTUNIDADE DE QUEBRAR ESSE
PRECONCEITO."
IRIS AMÂNCIO, EDUCADORA
IRIS AMÂNCIO, EDUCADORA
Anderson
Feliciano, autor de A verdadeira estória do Saci
"ESSAS
PUBLICAÇÕES MOSTRAM UM AVANÇO, UMA ABERTURA NO CENÁRIO MINEIRO QUE DURANTE TODA
MINHA INFÂNCIA AINDA TINHA A PORTA FECHADA PARA OS AFRO DESCENDENTES. EU
PROCURO INSERIR MEUS FILHOS NO MUNDO LITERÁRIO E AGORA ACREDITO QUE DE UMA
FORMA MAIS IGUALITÁRIA JÁ QUE PODEMOS VER O NEGRO REPRESENTADO NAS ESTÓRIAS
INFANTIS."
ELISANGELA, AUXILIAR ADMINISTRATIVA
ELISANGELA, AUXILIAR ADMINISTRATIVA
André Luís e o filho Fernando
E, se o mercado está aquecido e os autores produzindo em
ritmo e criatividade acelerados, o consumidor não fica atrás em relação ao
consumo de livros sobre a cultura negra ou que tragam personagens que servem
como espelhos positivos para crianças e jovens. O médico André Luis, de 52
anos, busca compartilhar com o filho adotivo Fernando, de seis anos, a
literatura e a cultura afro. “É importantíssima a valorização, não quero que
meu filho se veja de forma massacrada, mas sim valorizada, faço questão de inserir
em sua cultura publicações que o valorizam.” Andréia Aparecida, de 37 anos, e
Celso Augusto, de 32 – ambos técnicos em enfermagem e pais de Vitória, de 8
anos, Guilherme, de 5, e o recém-nascido João –, seguem a mesma receita e
procuram inserir a literatura na vida dos filhos desde muito cedo. “É bom que
eles criem gosto pela leitura de bons livros”, declara Andréia.
"É
IMPORTANTÍSSIMA A VALORIZAÇÃO, NÃO QUERO QUE MEU FILHO SE VEJA DE FORMA
MASSACRADA, MAS SIM VALORIZADA, FAÇO QUESTÃO DE INSERIR EM SUA CULTURA PUBLICAÇÕES
QUE O VALORIZA."
ANDRÉ LUIS, MÉDICO
ANDRÉ LUIS, MÉDICO
Rubem
Filho e Gustavo Gaivota
FONTE: Revista Raça Brasil
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