quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Seminário no RJ discute intolerância religiosa na educação


de Drielly Jardim
A Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR) realiza, nesta quarta-feira (12), em Estácio, no Rio de Janeiro, o Seminário Intolerância Religiosa na Educação. O evento, que faz parte do projeto “Seminários caminho para liberdade religiosa”, conta com o apoio do Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (CEAP) e da Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos do Rio de Janeiro.
Segundo Astrogildo Filho, um dos organizadores do evento, o seminário faz parte do ciclo de debates que passará por três cidades do Rio de Janeiro e deverá culminar com uma grande mobilização no dia 21 de janeiro de 2013 – Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa. “Nós vamos discutir o tema e propor soluções para que seja criado o Plano Nacional de Intolerância Religiosa”, afirma. “É uma mobilização da sociedade civil que busca chamar a atenção do governo para um tema muito importante”, garante.
Os próximos seminários ainda não têm data e locais definidos, mas terão como tema “liberdade de expressão” e “laicidade e o Estado”. A participação é gratuita.
Dia de Combate – O Dia Nacional de Combate a Intolerância Religiosa, celebrado em 21 de janeiro, foi oficializado pela Lei nº 11.635, em 2007. A data homenageia a sacerdotisa, Gildásia dos Santos e Santos, a Mãe Gilda. Ialorixá do terreiro Axé Abassá de Ogum, em Salvador, Mãe Gilda morreu de enfarte, após ser acusada de charlatanismo no periódico de uma instituição religiosa protestante.
A legislação brasileira proíbe qualquer tipo de intolerância religiosa. A Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989, alterada pela Lei nº 9.459, de 15 de maio de 1997, considera crime a prática de discriminação ou preconceito contra religiões.



Fonte: Fundação Palmares




terça-feira, 4 de dezembro de 2012

O "Natal" Kwanzaa


Que tal comemorar este período natalino nas escolas com elementos da Mãe África? Conheça o Kwanzaa e celebre com seus alunos.


Como funciona o Kwanzaa
por Stephanie Watson - traduzido por HowStuffWorks Brasil


Símbolos do Kwanzaa
No final de dezembro, a época de festas está a todo vapor. Os cristãos celebram o Natal , que comemora o nascimento de Jesus. Os judeus celebram o Chanucá , que celebra a recuperação de seu templo sagrado em Jerusalém. Esses feriados são celebrações cheias de alegria em que as famílias e os amigos se juntam para compartilhar comida e presentes. As pessoas de descendência africana têm sua própria celebração de dezembro, em que elas se juntam com os entes queridos para reafirmar os elos com a família e a cultura e também para compartilhar a comida e trocar presentes. Ela é chamada de Kwanzaa, e, embora seja relativamente nova se comparada com os outros feriados, ela se tornou um importante aspecto da prática da cultura africana nos outros continentes.
Neste artigo, vamos conhecer as raízes do Kwanzaa, descobrir o significado de seus símbolos e aprender sobre as tradições únicas que dão existência a essa celebração.

O que é Kwanzaa?
Selo emitido pelo governo dos Estados Unidos em 2011 em homenagem
ao Kwanzaa
Kwanzaa é um feriado pan-africano, o que significa que ele foi concebido para unir as pessoas de descendência africana de todos os lugares do mundo. Ele vai de 26 de dezembro a  de janeiro. Diferente do Natal e do Chanucá, que são feriados religiosos, o Kwanzaa é um feriado cultural (na verdade, muitas pessoas comemoram o Kwanzaa e o Natal). Durante os sete dias, descendentes de africanos se juntam para celebrar a família, a comunidade, a cultura e os elos que os unem como povo. Eles também relembram sua herança, agradecem pelas coisas boas que têm e exultam a bondade da vida. O sete é um tema importante do Kwanzaa. O feriado dura sete dias, um dia para cada um dos sete princípios. Há sete símbolos básicos usados na cerimônia do Kwanzaa (um deles são as sete velas) e cada símbolo se une a um ou mais dos sete princípios.

A história do Kwanzaa
Como o Kwanzaa obteve esse nome
Existe uma história que é mais ou menos assim: durante uma das primeiras celebrações do Kwanzaa, havia um cortejo de crianças. Cada uma das seis crianças segurava uma das letras da palavra "Kwanza", que é como se escrevia o nome do feriado. Mas uma sétima criança, sem letra para segurar, começou a chorar. Alguém do evento deu à criança uma letra "a" a mais, e o feriado então foi renomeado como "Kwanzaa".






Embora o Kwanzaa tenha começado há poucas décadas, suas raízes vêm das antigas celebrações africanas da colheita. O nome "Kwanzaa" vem da frase em Swahili, "matunda ya kwanza," que significa "os primeiros frutos". Muitas das celebrações dos primeiros frutos, como, por exemplo, o Umkhost de Zululand na África do Sul, também tinham duração de sete dias. O Kwanzaa foi uma criação doDr. Maulana Karenga, professor e diretor do Departamento de Estudos Negros da Universidade do Estado da Califórnia(em inglês) e ex-ativista dos direitos civis. Ele apresentou o Kwanzaa em 1966, uma época em que os afro-americanos lutavam por direitos iguais, como meio de ajudá-los a se conectarem com os valores e tradições africanas. O Dr. Karenga também quis que o Kwanzaa servisse como um elo para unificar os afro-americanos como comunidade e como povo. Ele escolheu as datas de 26 de dezembro a 1º de janeiro para coincidir com os feriados judeu e cristão, que já são uma época de celebração. E escolheu um nome que vem do idioma Swahili porque ele é falado por um grande número de pessoas no leste africano.
Na época das celebrações da colheita, os africanos se juntavam para celebrar suas safras e reafirmar seus elos como comunidade. Eles ofereciam graças ao seu criador por uma colheita generosa e uma vida plena. Eles honravam seus ancestrais e reafirmavam seu compromisso com sua herança cultural e também celebravam sua cultura e sua comunidade. Os ideias da colheita inspiraram o Dr. Karenga a criar os Sete Princípios do Kwanzaa.

Os sete princípios do Kwanzaa
O Kwanzaa está centrado nos sete princípios, Nguzo Saba (En-GOO-zoh Sah-BAH), que representa os valores da família, da comunidade e da cultura para os africanos e para os descendentes de africanos. Os princípios foram desenvolvidos pelo fundador do Kwanzaa, Dr. Maulana Karenga, baseados nos ideais das colheitas dos primeiros frutos. Os princípios são:
  • umoja (oo-MOE-jah): união
    Estar unido como família, comunidade e raça; 
  • kujichagulia (koo-jee-cha-goo-LEE-ah): auto-determinação
    Responsabilidade em relação a seu próprio futuro; 
  • ujima (oo-JEE-mah): trabalho coletivo e responsabilidade
    Construir juntos a comunidade e resolver quaisquer problemas como um grupo; 
  • ujamaa (oo-JAH-mah): economia cooperativa
    A construção e os ganhos da comunidade através de suas próprias atividades; 
  • nia (nee-AH): propósito
    O objetivo de trabalho em grupo para construir a comunidade e expandir a cultura africana; 
  • kuumba (koo-OOM-bah): criatividade
    Usar novas idéias para criar uma comunidade mais bonita e mais bem-sucedida; 
  • imani (ee-MAH-nee): 
    Honrar os ancestrais, as tradições e os líderes africanos e celebrar os triunfos do passado sobre as adversidades.
Durante as festividades do Kwanzaa, os princípios são ilustrados por sete símbolos.
Os sete símbolos do Kwanzaa

Sete símbolos são exibidos durante a cerimônia do Kwanzaa para representar os sete princípios da cultura e da comunidade africana. 
  • Mkeka (M-kay-cah): é a esteira (geralmente feita de palha, e que também pode ser feita de tecido ou papel) sobre a qual todos os outros símbolos do Kwanzaa são colocados. A esteira representa a base das tradições africanas e da história . 
  • Mazao (Maah-zow): as safras, frutas e vegetais representam as celebrações da colheita africanas e mostram respeito pelas pessoas que trabalharam no cultivo. 
  • Kinara (Kee-nah-rah): o candelabro representa a base original da qual todos os ancestrais africanos vieram e contém sete velas. 
  • Mishumaa (Mee-shoo-maah): nas sete velas, cada uma representa um dos sete princípios. As velas são vermelhas, verdes e pretas, cores que simbolizam o povo africano e sua luta. 
  • Muhindi (Moo-heen-dee): o milho representa as crianças africanas e a promessa de futuro para elas. Um sabugo de milho é colocado para cada criança da família. Em um família sem crianças, um sabugo de milho é colocado simbolicamente para representar as crianças da comunidade. 
  • Kikombe cha Umoja (Kee-com-bay chah-oo-moe-jah): a Taça da Uniãosimboliza o primeiro princípio do Kwanzaa, ou seja, a união da família e do povo africano. A taça é usada para derramar a libação (água, suco ou vinho) para a família e os amigos. 
  • Zawadi (Sah-wah-dee): os presentes representam o trabalho dos pais e a recompensa para seus filhos. Os presentes são dados para educar e enriquecer as crianças, e podem ser um livro, uma obra de arte ou um brinquedo educativo. Pelo menos um dos presentes é um símbolo da herança africana.

As velas
Sete velas são colocadas dentro do Kinara: 
  • no centro há uma vela preta representando o primeiro princípio: união (Umoja); 
  • à esquerda da vela preta estão três velas vermelhas, representando os princípios deauto-determinação (Kujichagulia), economia cooperativa (Ujamaa) e criatividade (Kuumba); 
  • à direita da vela preta estão três velas verdes, representando os princípios de trabalho coletivo e responsabilide (Ujima), próposito(Nia) e  (Imani).

Os sete dias do Kwanzaa

As velas do Kwanzaa
No primeiro dia do Kwanzaa, 26 de dezembro, o líder ou ministro convida todos a se juntarem e os cumprimenta com a pergunta oficial: "Habari gani?" (O que está acontecendo?), à qual eles respondem com o nome do primeiro princípio: "umoja". O ritual é repetido em cada dia de celebração do Kwanzaa, mas a resposta muda para refletir o princípio associado àquele dia. No segundo dia, por exemplo, a resposta é "Kujichagulia". Em seguida, a família diz uma prece. Depois, eles recitam um chamado de união, Harambee (Vamos nos Unir). A libação é então realizada por um dos adultos mais velhos, e uma pessoa (geralmente a mais jovem) acende uma vela do Kinara. O grupo discute o significado do princípio do dia e os participantes podem contar uma história ou cantar uma música relacionada a esse princípio. Os presentes são oferecidos um a cada dia ou podem ser todos trocados no último dia do Kwanzaa.
O banquete do Kwanzaa é no dia 31 de dezembro. Ele não inclui só comida, é também um momento de cantar, orar e celebrar a história e a cultura africana.
O dia 1º de janeiro, o último dia do Kwanzaa, é um momento de reflexão para cada um e para todo o grupo. As pessoas se perguntam: "quem sou eu?" "sou realmente quem digo que sou?" e "sou tudo o que posso ser?" A última vela do Kinara é acesa e então todas as velas são apagadas sinalizando o fim do feriado.
Nas próximas seções, vamos ver em detalhes os elementos da celebração do Kwanzaa.

Celebrando o Kwanzaa: as tradições do feriado
Troca de presentes
Os presentes do Kwanzaa sempre incluem um livro, que representa o valor do aprendizado, e também pelo menos um símbolo da herança africana.
Milhões de africanos, não só nos Estados Unidos, mas em todo o mundo, celebram o Kwanzaa todos os anos. Eles se juntam com a família e os amigos para homenagear os ancestrais e as tradições africanas e olhar para seu futuro como povo. Eles se reúnem nas casas, nas escolas, nas igrejas e nos centros comunitários. As cores oficiais do Kwanzaa são preto, vermelho e verde. Essas cores sempre tiveram um significado para os africanos (são as cores da bandeira africana), mas foram apresentadas aos afro-americanos por Marcus Garvey(em inglês), um líder nacionalista negro do início do século 20. O preto representa o povo africano; o vermelho representa sua luta (sangue); e o verde é um símbolo de seu futuro. A maior parte da decoração do Kwanzaa é feita nas cores simbólicas do feriado. 

As pessoas usam uma variedade de ítens decorativos que tornam suas casas mais festivas durante o Kwanzaa. Os ítens incluem cestas, arte africana, cartazes, a bandeira do país e os símbolos da colheita. O componente mais importante da casa é uma mesa onde se encontra a esteira (Mkeka), sobre a qual são exibidos os outros símbolos do Kwanzaa:
  • candelabro (Kinara) segura as sete velas (Mishumaa Saba). Uma vela do Kinara é acesa em cada dia da celebração. A vela preta do centro é a primeira a ser acesa. Uma vela é acesa a cada noite, começando pela última à esquerda (uma vela vermelha) e depois alternando entre uma vermelha e uma verde, de fora para o centro do candelabro; 
  • Mazao (frutas e vegetais) é colocado em uma tigela ou uma cesta; 
  • na esteira também é colocado o Muhindi (milho), um sabugo de milho para cada criança da casa; 
  • Taça da União (Kikombe cha umoja) é usada para servir a libação (água, suco ou vinho) para cada membro da família; 
  • presentes (Zawadi) como livros, vídeos ou outros ítens educativos também são colocados na esteira.
Na próxima seção, vamos ver o que acontece durante o banquete do Kwanzaa.

As afirmações da libação 
À Mãe-terra, berço da civilização.
Aos ancestrais e seus espíritos indomáveis.
Aos anciãos, de quem podemos aprender muito.
Aos nossos jovens, que representam a promessa do amanhã.
Ao nosso povo, o povo original.
À nossa luta e em lembrança àqueles que lutaram por nós.
A Umoja, o princípio da união, que nos guiará em tudo que fizermos.
Ao criador, que é o provedor de todas as coisas grandes e pequenas.









O banquete do feriado
Em 31 de dezembro, os participantes organizam um grande banquete, o Kwanzaa Karamu. O banquete é mais do que só comida, é também um fórum de expressão cultural que inclui música, dança e leitura. Um programa típico de um Kwanzaa Karamu é mais ou menos assim:
  • kukaribisha (Saudações): apresentação e saudação seguida por música, dança, poesia e outras apresentações; 
  • kuumba (Relembrar): reflexões culturais; 
  • kuchunguza Tena Na Kutoa Ahadi Tena (Reavaliação e reforço do compromisso): um discurso breve feito por um convidado; 
  • kushangilla (Exultação): leitura das afirmações da libação, seguida por uma bebida comunal servida na Taça da União, e leitura dos nomes de ancestrais e heróis negros, seguida por um jantar; 
  • tamshi la tutaonan (Manifesto de despedida): leitura de uma afirmação de despedida acompanhada por uma conclamação de uma maior união.
A comida servida durante o Kwanzaa é uma mistura de sabores caribenhos, africanos e sul-americanos. Alguns pratos populares são quiabo frito, bananas, frango frito, sopa de feijão preto, presunto cozido e gumbo. Uma grande esteira (Mkeka) é colocada no centro da salão e toda a comida é disposta nela em destaque.





quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Alguns projetos sobre cultura negra na escola

Cultura negra na escola
A LEI Nº 10 639, SANCIONADA EM JANEIRO DE 2003 PELO PRESIDENTE LULA, GERA RESULTADOS: MILHARES DE JOVENS NEGROS E BRANCOS ESTÃO APRENDENDO SOBRE A CULTURA E A HISTÓRIA AFRO-BRASILEIRA E A CONVIVER E RESPEITAR AS DIFERENÇAS

Afrobrasilidades, exposição realizada na Escola Professor Benedito Tolosa, em São Paulo

CONTAR A HISTÓRIA DO SAMBA, aulas de penteados afros, confecção de roupas para apresentações artísticas, canções de congo, jogos típicos das aldeias africanas, tambores, literatura, receitas de comidas típicas, cartazes sobre animais da savana... As expressões artísticas são das mais livres. Em Juiz de Fora, MG, as irmãs Fernanda, Amanda e Iana, alunas da Escola Municipal José Calil Ahouagi, estavam ansiosas para o recomeço das atividades do projeto “África-Brasil”, que reúne atividades voltadas para a comunidade do bairro Nova Califórnia. Através do teatro, da dança, do artesanato e, principalmente, da criatividade dos alunos da escola, os contos e as lendas africanas ganham novas interpretações. E o papel do negro no Brasil torna-se objeto de discussão.
Alunos de 4 a 5 anos aprendem as canções de roda
A responsável pelo projeto é a professora Andréa Borges de Medeiros, diretora da escola há cinco anos. Ela conta que tudo começou em 1999, durante sua pesquisa de mestrado. “A intenção era promover a igualdade. Um dos achados é que as crianças tinham baixa auto-estima por conta da não aceitação étnico-racial, o que acabava afetando o desempenho escolar e as relações sociais no colégio”, revela. De um trabalho individual, o “África- Brasil” ganhou novos adeptos: professores, alunos, pais. Todos como membros participantes das atividades culturais promovidas na escola. Num período em que a discussão sobre diversidade está em destaque, a Escola Municipal José Calil Ahouagi, de fato, pode se considerar pioneira neste assunto. Tão pioneira que despertou o interesse de pesquisadores da Universität Siegen, da Alemanha, que visitaram a instituição no primeiro semestre de 2007. Andréa Medeiros ainda esteve entre as três finalistas do Prêmio Nacional “Educar para a Igualdade Racial”, que teve 393 trabalhos inscritos de 23 estados brasileiros. Unanimidade no Centro de Estudos das Relações do Trabalho e da Desigualdade de São Paulo, o primeiro lugar foi concedido para o trabalho da diretora. O reconhecimento à escola ainda se completou com a Medalha Nelson Silva, mérito entregue pela Câmara Municipal de Juiz de Fora para pessoas ou instituições que trabalhem em favor da valorização da cultura negra.
Alunos ensaiam ritmos africanos ao som do tambor

RESPEITANDO A LEI
Muitos alunos já perceberam que grande parte do que a escola lhe ensinou até hoje sobre cultura afro-brasileira era folclore ou clichê. Os livrinhos que não iam além das senzalas e dos navios negreiros foram trocados por literatura, política, arte e história. Está tudo garantido pela Lei nº 10 639. Ela diz que toda instituição de ensino fundamental e médio, público e particular deve incluir o assunto no currículo. Sancionada em janeiro de 2003, a lei vem ganhando força. Os livros didáticos, que existiam são um exemplo crucial disso: omitiam a história negra e restringiam personagens políticos apenas à figura de Zumbi. A lei é base na mudança do imaginário brasileiro.
Para o coordenador da sede nacional da Educafro, Douglas Belchior, a promulgação desta Lei foi um grande avanço do ponto de vista político para o movimento negro. Mas foi muito mais importante para a sociedade. O racismo, o preconceito e a discriminação dirigidos à comunidade afro-descendente foi, durante esses mais de 500 anos, institucionalizado pelo Estado brasileiro. À medida que os poderes constituídos aprovam uma lei dessa natureza, assumem seu erro histórico. Isso por si só já é um avanço. Mas, como estamos no Brasil, é sempre bom lembrar: direito é uma coisa, condição e oportunidade de acesso ao direito é outra. “O trabalho com a história e a cultura afro, se praticado desde cedo, na infância e adolescência, com certeza modificará hábitos viciosos que nos levam à prática e à alimentação cotidiana do racismo. A afirmação de nossa identidade negra, com orgulho e com amor, é um dos maiores ganhos possíveis a partir da prática efetiva desta Lei”, frisa Belchior.



UM MUNDO DE INFORMAÇÕES
Andréa Borges, diretora da escola, prepara o pequeno Juscélio, de 5 anos
Em São Paulo na escola da rede estadual, Professor Benedito Tolosa, que atende 2 200 alunos no ensino fundamental, médio e EJA (supletivo) na zona norte da cidade há dois anos, está sendo desenvolvido o projeto “Afro – Brasilidades – Um Olhar sobre a Comunidade Tolosiana” com atividades ligadas à cultura e história afrobrasileira. O projeto foi desenvolvido pela equipe gestora da escola e visa quebrar os paradigmas e desenvolver boa convivência e respeito entre todos apesar das diferenças. Recentemente foi organizada uma exposição sobre África com os trabalhos realizados em sala de aula pelos alunos com vídeo, dança, música, comida, artes e roupas. Os filhos de Elimar Aparecida da Silva, Layene, 12, e Victor Hugo, 4, participam dos ensaios de dança. Moradora do bairro Dom Bosco, a cozinheira considera o projeto uma grande novidade. “Nunca tinha visto nada assim antes. Acho muito bom os meus filhos participarem porque, ao invés de ficarem na rua, vêm para a escola”, orgulha-se Elimar. O coro é reforçado pela também cozinheira Etelvina Maria Gonçalves Lima, que trabalha na José Calil Ahouagi há 13 anos. “Os meninos ficam o dia inteiro aqui. Às vezes, chegam às 7h30 e só saem às 16h. Até almoçam conosco. Isso é uma novidade.”
Para a professora Sueli Jesus Fanganiello Martins, uma das coordenadoras da exposição, o envolvimento dos alunos é muito grande. “Eles descobrem um mundo de informações desconhecidas e extremante interessantes e importantes. Além do aspecto cultural, percebemos a mudança de comportamento: eles começam a se respeitar e a olhar os colegas negros de uma outra forma”, diz ela. Cerca de 400 alunos com idade entre 13 e 17 anos participaram do projeto. “Procuramos quebrar os paradigmas que o branco é bonito ou que um é melhor que o outro para que os alunos possam conviver bem e aceitar as diferenças. Dentro desse processo, resgatar o orgulho da comunidade negra, a emancipação dos afros-descentes e a autoestima é ponto fundamental. Ao mesmo tempo fazemos com que o branco conheça a verdadeira história e aprenda a ter respeito pelo negro. Com o projeto aqui na escola, conseguindo amenizar os conflitos étnicos raciais”, afirma o diretor da escola Antônio Sérgio dos Santos Gutierrez.

A CONTRIBUIÇÃO DOS AFRICANOS
Jessie Valeska de Brito e Silva, de 13 anos, concorda. A aluna da 7º série está adorando conhecer mais sobre a história e cultura negra. “Estou aprendendo e entendo coisas que apesar de ser negra não sabia. Ninguém tinha me explicado até hoje. Sempre fui muito tímida, mas depois do início desse projeto comecei a me soltar mais. As pessoas começaram a conversar comigo, a me questionar sobre o preconceito e vários outros assuntos.
Para mim está sendo ótimo, consegui evoluir muito. Depois dessa experiência, tenho certeza que vou encarar a situação sem medo”, conta a estudante.
Kabengele Munanga, titular do departamento de Antropologia da Universidade de São Paulo e Diretor do Centro de Estudos Africanos, acredita que a lei é um avanço notável para o Brasil em geral e para a população negra em especial. Pela Lei, reconheceu- se oficialmente a contribuição dos africanos e de seus descendentes na construção da sociedade brasileira, não apenas com trabalho escravizado, mas também e principalmente na construção da economia colonial do país, no povoamento do seu território, na construção de sua cultura e de sua identidade nacional. “Reconheceu- se a identidade negra no universo das identidades étnicas que compõem a identidade nacional plural. A maneira mais nobre de reconhecer a história de um dos segmentos étnicos que formam o Brasil é ensinar essa história aos jovens brasileiros, futuros responsáveis pelo país.”
Só no estado de São Paulo existem 5.400 escolas e 5 milhões de alunos. Dados do censo escolar de 2006, feito pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP) mostra que cerca de 19 milhões dos alunos do ensino fundamental e do médio se declaram pretos ou pardos. De acordo com Maria Margarete Santos, coordenadora de Estudos e Normas Pedagógicas da Secretária do Estado de São Paulo, todas as escolas do estado estão com o currículo oficial dentro das especificações da lei São Paulo: Educando pela diferença para a igualdade, parceria da SEE com a Universidade federal de São Carlos (UFSCar) que está formando e informando os professores. “No primeiro semestre de 2006, terminou o curso de capacitação. Existe também uma capacitação de geografia africana e afro-brasileira, ministrada pelo Prof. Dr. Rafael Zanzio dos Santos, da Universidade Federal de Brasília.

O AVANÇO DA LEI 
Segundo o advogado Renato Ferreira, do Laboratório de Políticas Públicas - UERJ e coordenador do Programa Políticas da Cor, existem uma discussão e trabalhos pontuais de capacitação. Muitos professores querem se capacitar, mas não existe uma política pública nesse sentido. “A lei é um avanço significativo por duas questões: ela permite que um assunto de tamanha relevância seja tratado da forma que merece. É o reconhecimento do estado brasileiro da necessidade de implementação de políticas afirmativas para promover a igualdade racial. A lei não é boa só para o negro, ela é uma ferramenta para promoção da diversidade como um valor nacional.
Num país plural como o nosso isso só nós obriga a não permitir que a educação seja dada somente pela matriz européia. Essa lei está pelo menos 100 anos atrasada”, ele frisa.


FONTE: Revista Raça Brasil

terça-feira, 13 de novembro de 2012

UFRRJ é a primeira Universidade pública do Estado a reservar 50% das vagas para cotas sociais e étnicas



Com prazer informamos que a UFRRJ é a primeira universidade pública do Rio de Janeiro a implantar integralmente, pelo "teto" (50%) e em todos os seus Campi, o que prevê a Lei 12.711/2012, já neste processo seletivo e nos seguintes termos:
"O Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão da UFRRJ, reunido na manhã do  dia 6/11,  aprovou 50% de cotas sociais e étnicas conforme prevê a LEI 12.711/2012 que institui as cotas. Ou seja, o máximo que deveria ser atingido em 4 anos. 
Em consonância com a Lei 12.711, de 29 de agosto de 2012 (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12711.htm), a UFRRJ reservará no mínimo 50% (cinquenta por cento) das vagas para ingresso em 2013-1, por curso e turno, para candidatos que tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas, inclusive cursos de educação profissional técnica, observadas as seguintes condições:
I -  no mínimo 50% (cinquenta por cento) das vagas de que trata o caput serão reservadas aos estudantes com renda familiar bruta igual ou inferior a 1,5 (um vírgula cinco) salário-mínimo per capita; e
II - no mínimo 51,8% das vagas de que trata o caput serão reservadas para autodeclarados pretos, pardos e indígenas, conforme o último Censo Demográfico divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para o Estado do Rio de Janeiro.
Nas duas primeiras chamadas do SISU 2013-1, a UFRRJ destinará 10% (dez por cento) das vagas destinadas à ampla concorrência dos seus cursos de Licenciatura para candidatos que sejam professores em atividade na rede pública de educação básica sem formação adequada à LDB-9394/96.
Agora, precisamos garantir a democracia de permanência e de realização com sucesso, de todos os que acessarem a UFRRJ, através desse mecanismo de democratização de acesso.

(comunicado enviado por email pelo Professor Pós-doutor em Antropologia Social (PPGAS/UFRRJ) e Pesquisador do Mestrado em Educação - PPGEduc/UFRRJ - Campus Nova Iguaçu, Ahyas Siss)




sábado, 10 de novembro de 2012

O corpo humano na cultura e arte africanas é tema de exposição na Fiocruz



A cooperação com os países do continente africano trouxe um efeito positivo inesperado para a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Além de estabelecer laços nas áreas de educação, pesquisa e saúde, alguns dos pesquisadores brasileiros que participam das missões da Fundação ao continente se apaixonaram pela arte africana e acabaram formando importantes coleções, que serão expostas pela primeira vez ao grande público na mostra O Corpo na Arte Africana.
A exposição, inaugurada no dia 17 de setembro, comemora o sucesso da cooperação Fiocruz-África e marca a aprovação em 2012, pelo Congresso Nacional brasileiro, da abertura do primeiro escritório internacional da Fiocruz, localizado em Maputo, capital de Moçambique. Clique aqui para ver uma fotogaleria da mostra.

Corpo e arte


Exposição única, O Corpo na Arte Africana conta com cerca de 140 obras de arte reunidas pelos pesquisadores Wilson Savino, Wim Degrave, Rodrigo Corrêa de Oliveira e Paulo Sabroza. As obras estão divididas em cinco módulos: “Corpo individual & Corpos múltiplos”; “Sexualidade & Maternidade”; “A modificação e a decoração do corpo”; “O corpo na decoração dos objetos”; e “Máscaras como manifestação cultural”. A mostra conta ainda com 14 fotografias cedidas pelo colecionador francês Gérard Lévy, com registros que datam do período entre o fim do século 19 e o início do século 20.

Para Luisa Massarani, chefe do Museu da Vida, a exposição chama a atenção para a colaboração científica entre o Brasil e países africanos. “Mas buscamos contar esta história de uma forma charmosa e inesperada, tendo como ponto de partida a paixão despertada em pesquisadores brasileiros pela arte africana”, disse. “A mensagem subliminar aqui é que ciência e arte caminham juntas”. “Montar a coleção foi um grande prazer e, agora, poder exibi-la e ajudar na valorização da riquíssima arte africana em nosso país é uma oportunidade incrível”, comenta Savino, um dos colecionadores e curador da exposição.
O módulo “Corpo individual & Corpos múltiplos” mostra que muitas vezes uma estátua não representa um homem ou uma mulher, mas um ser humano completo, com uma parte física e uma parte espiritual. As peças de corpos múltiplos simbolizam a complementaridade dos dois gêneros na reprodução dos humanos e também a cooperação nas atividades humanas, como a agricultura, coleta, pesca ou caça.
Em “Sexualidade & Maternidade”, as peças indicam que a sexualidade entre os povos africanos é bastante associada à fertilidade, o que explica a presença, em diversas etnias, de esculturas simbolizando o “casal primordial”, que teria dado origem a cada linhagem. Já representações associadas à maternidade, abundantes na arte africana, demonstram a importância da fecundidade para a mulher.


O continente africano talvez seja o lugar onde o homem mais utilize o corpo como objeto a ser esculpido, submetendo-o a diversas intervenções perenes ou temporárias. É este o tema do módulo “A modificação e a decoração do corpo”. Algumas dessas intervenções corporais funcionam como marcas de pertencimento a uma tribo, a uma classe ou estão ligadas ao status do indivíduo no grupo.
No módulo “O corpo na decoração dos objetos”, é mostrado que representações humanas em desenhos, entalhes e esculturas ornamentam vários objetos e utensílios africanos, como instrumentos musicais, cetros, mobiliário, portas, cachimbos, colheres e recipientes. Além da decoração, estes objetos especiais dão prestígio ao dono e muitas vezes refletem a posição hierárquica que ele ocupa.
O módulo “Máscaras como manifestação cultural” aborda o significado de algumas máscaras, que, ao cobrirem o corpo humano ou uma de suas partes, transformariam aqueles que as vestem na encarnação de divindades ou ancestrais.
Gisele Catel, historiadora, antropóloga e também curadora da exposição, enaltece a importância e diversidade da arte africana. “Temos objetos de cerca de 50 etnias e cada uma delas é um universo. Como estamos fazendo uma exposição unindo todas elas, optamos pelo diálogo direto da obra de arte com o público. O acervo desta exposição é resultado de milhares de anos de arte. A civilização africana é muito antiga e sua arte é milenar”.
O Corpo na Arte Africana é uma realização da Presidência da Fiocruz, do Museu da Vida/Casa de Oswaldo Cruz e Instituto Oswaldo Cruz, com apoio da Faperj. A mostra ocupa a Sala de Exposições temporárias do Museu da Vida até o início de 2013 e pode ser visitada de terça a sexta, das 9h às 16h30, por grupos agendados. No sábado, a visitação é livre, das 10h às 16h.

O Corpo na Arte Africana   Exposição gratuita
De 17 de setembro de 2012 ao início de 2013
Local: Sala de exposições do Museu da Vida
Visitação: de terça a sexta, das 9h às 16h30, mediante agendamento. No sábado, visitação livre, das 10h às 16h.
Endereço: Av. Brasil, 4365 - Manguinhos - Rio de Janeiro (dentro do campus da Fiocruz e próximo à passarela 6)
Mais informações e agendamento: (21) 2590-6747 e recepcaomv@coc.fiocruz.br.



Fonte: Fiocruz

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Plano de Aula - Diversidade cultural: uma proposta de disseminação da cultura afro no contexto escolar

Manifestacoes Culturais01

PROJETO ESCOLA & UNIVERSIDADE
Por ELIZABETE APARECIDA SOLA FRANCO
1.INTRODUÇÃO
O projeto "Diversidade cultural: uma proposta de disseminação da cultura afro no contexto escolar" pretende abordar as questões de se valorizar e compreender um pouco mais sobre a beleza e diversidade da cultura afro-brasileira.
A valorização da cultura afro-brasileira tem sido enfocada nos dias de hoje, como por exemplo, a lei nº 10.639 de 09 de janeiro de 2003, que estabelece a obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-brasileira e africana na Educação do Ensino Fundamental e Médio. Entretanto, não raro, ela encontra-se distante do ambiente escolar, pois é negligenciada pelos professores, ou, ignorada e tal comportamento passou a ser um dos obstáculos pedagógicos, interferindo no ensino-aprendizagem. Ademais, muitos profissionais desconhecem ou tem receio de trabalhar este conteúdo, por não estarem preparados para entrar no âmbito das discussões políticas, de preconceito social, racial e religioso, bem como, serem também fruto de um processo pedagógico que também os alijou desses conhecimentos.
Para tanto, será enfatizado o valor educacional da cultura afro descendente através do ensino de história e da dança, propiciando um resgate cultural, apresentando a cultura afro-brasileira como elemento de integração da comunicação individual e coletiva, pois através dela facilitaremos as relações sociais, reconhecendo os conflitos inerentes a esse tema.
Este projeto tem a intenção de contribuir para a disseminação e reflexão da cultura afro-brasileira através da Dança e da História, uma vez que são raros os trabalhos produzidos.
2. PROBLEMATIZAÇÃO
É possível desenvolver uma proposta metodológica para o ensino da cultura afro-brasileira entre os alunos do Ensino Fundamental da rede municipal de ensino, possibilitando transformar a realidade em relação ao preconceito étnico racial?
A escola é um espaço que oportuniza os/as alunos/as a conviverem com outras crianças de mesma faixa etária e é um ambiente propício para que ocorra o aprendizado. Esse, segundo as Diretrizes Curriculares de Curitiba, deve preconizar o seu desenvolvimento em todas as dimensões do ser humano. Nesse universo escolar a diversidade, a diferença e a desigualdade se fazem presentes também nas questões étnicas e culturais.
O respeito pela diversidade deve ser trabalhado em todas as áreas do conhecimento, sendo uma das formas de efetivamente incluir a diversidade no currículo acadêmico e explorando a cultura afro-brasileira devido a suas inúmeras possibilidades de enfoque.
No Brasil, nos últimos anos, a preocupação de educadores e legisladores em mencionar a dança em seus trabalhos e projetos têm sido evidente. É nessa perspectiva da diversidade e da multiplicidade de propostas e ações que caracterizam o mundo contemporâneo que seria interessante lançarmos um olhar mais critico sobre a dança na escola.
A dança e a cultura afro-brasileira seria uma das maneiras de apresentar aos alunos uma novidade carregada desse potencial educativo, pois no seu ensinamento utilizamos o movimento consciente para expressar ideias, pensamentos e reflexões nos âmbitos filosóficos, sociais e políticos. Além de valorizar a cultura dos negros e de seus descendentes.
Com base na realidade presente na maioria das escolas podemos questionar a possibilidade de trabalhar a dança e cultura afro-brasileira junto aos alunos com o caráter formativo, como cultura corporal, abordando a diversidade, a diferença e a desigualdade entre eles.
3. OBJETIVOS
3.1 Geral:
Propor a cultura afro-brasileira nas aulas de docência e Educação Física e oportunizar aos alunos/as o conhecimento de alguns tipos de dança afro, bem como nas aulas de história promovendo novas experiências, assegurando a formação cultural e humana do discente.
3.2 Específicos:
- Fazer uma apresentação teórica da cultura afro-brasileira, com a possibilidade de sua identificação e entendimento como cultura popular;
- Promover reflexões sobre esta manifestação cultural;
- Oferecer oficinas de dança experimentando vários ritmos afros, buscando formas, técnicas corporais de saber criar e recriar movimentos de forma espontânea e criativa;
- Improvisar e elaborar coreografias significativas para os discentes tendo como tema a cultura afro-brasileira.
- Proporcionar desenvolvimento unilateral.
- Reconhecer as diferentes manifestações culturais como produção da humanidade nos diferentes tempos e nos diferentes espaços, relacionando-as com o contexto local.
- Respeitar a diversidade cultural, étnica, religiosa.
- Apresentar os trabalhos desenvolvidos para a comunidade escolar.
4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA:
A cultura é histórica, pensar em cultura é pensar em conhecimento, significado e formas de interpretar o mundo e nosso cotidiano. A construção de uma cultura é baseada no que fomos agregando ao longo da história para transformar e transmitir nosso pensamento, nossas formas de ser e sentir. Conhecer, aprender, ver as diferenças, como somos e como nos relacionamos é se apropriar do conhecimento.
Para entender o conhecimento, temos que refletir os inúmeros fatores pelos quais somos influenciados, como: o que assistimos na TV, o que temos como hábito de leitura, de saberes adquiridos, de técnicas corporais incorporadas, entre outros.
Avila (2000, p.2) ao tratar da cultura nos indica que não podemos compreendê-la como algo homogêneo, alertando para o fato de que ela possui diferentes formas de coexistir na esfera social, refletindo formas desiguais de apropriação do capital cultural: as culturas populares (segundo Gramsci), as culturas hegemônicas e a cultura de massa. Para ela há um entendimento corrente de que a cultura popular é algo primitivo, que necessita evoluir. Chauí (apud Avila, 2000, p.3) apresenta o seguinte questionamento a respeito da cultura popular: "Seria a cultura de um povo ou a cultura para o povo"? Esse desencadeamento de várias culturas, as influências recebidas e adicionadas foram sendo incorporadas pelo povo e refletidas na sociedade o que nos fornece o entendimento de que seja recíproco nesse processo de composição do percurso histórico. Para o folclore Gramsciano, como uma subcultura das classes dominadas. A cultura popular é uma forma pela quais os dominados se organizam, compreendem, apreendem e resignificam a cultura hegemônica. A cultura hegemônica pode ser entendida como uma cultura dominante, sendo imposta e estável, pode dizer que a cultura hegemônica precisa da cultura popular para existir, para tê-los como subordinados, pois é esta dinâmica que irá determinar o cenário de cultura que vivenciam.
Para Chauí apud Avila (2000, p.5) a cultura popular é uma manifestação dos dominados, buscando formas pelas quais a cultura dominante pode ser aceita, interiorizada, reproduzida e transformada, ou mesmo recusada e negada pelos dominados. Canclini apud Avila (2000, p.17) coloca alguns exemplos sobre folclore, utilizando do artesanato e das festas como formas de ilustrar possibilidades para a construção de outra hegemonia. As manifestações contestatórias podem auxiliar na libertação dos setores oprimidos desde que possamos reconhecê-los como símbolos de uma identidade social. Os negros podem servir de exemplo para clarificar esta realidade. Os negros escravizados inventaram a capoeira como forma de luta - e que é e pode ser vista também como dança- mas sendo o seu verdadeiro sentido uma forma de se defender. Para melhor compreender esse aspecto, é importante observar o ciclo histórico e cultural, os pontos de ruptura e de transformação dos nossos processos sócio-culturais.
Precisamos ver que existem diferenças e fica difícil estabelecer critérios rígidos e históricos sobre o que seria bom ou ruim na construção cultural, pois trilhamos caminhos diversos que abrangem política, processos mercadológicos, sistemas de produção, influências midiáticas que impedem de pensar de forma homogênea a cultura.
4.1 A CULTURA E SUAS REPERCUSSÕES
A cultura é essencial ao desenvolvimento do ser humano. De todas as manifestações culturais, a dança é uma das mais representativas, pois reflete os aspectos relativos a uma determinada sociedade e desenvolve, a partir da expressão corporal, movimentos e ritmos diversos. Segundo Boyer (1983), a arte é essencial na experiência humana, não é uma frivolidade, ele recomenda que a arte seja estudada para descobrir como seres humanos usam símbolos não verbais e se comunicam não apenas com palavras, mas através da música, teatro, dança e na construção do conhecimento. Em seu aspecto folclórico expressa as origens nacionais, divulgam e perpetuam a cultura de um povo, além de estabelecer bom relacionamento social e laços de solidariedade, como a democracia, a união, entre outros. (Vargas, 2007:58).
Segundo Nanni (1995 p.29), "criar é dar forma a um fenômeno de modo novo e compreendido em termos novos" e a dança permite isso, pelo processo educacional, a utilização do processo criativo, e por meio deste criar novas formas e fenômenos do movimento. Ainda para Nanni (2002, p.100), "a escola deverá estar sensível ao mundo daqueles que são a maioria, as classes populares e se valer da vontade de fazer chegar a elas conteúdos significativos que tenham relação com sua vida e que permitam a compreensão em si, das coisas que a cercam, e da relação entre ambos".
Através das atividades de história e de dança, pretendemos que a criança evolua quanto ao domínio de seu corpo, respeitando as diferenças, desenvolvendo e aprimorando suas possibilidades de movimento e de entendimento sobre a diversidade cultural.
A escola, enquanto meio educacional deve oportunizar didáticas e metodologias que facilitem a compreensão sobre a cultura afro-brasileira.
A atuação do professor principalmente nas séries iniciais deverá ser planejada e coerente. Conforme Gallahue e Ozmun (2001) a escola, muitas vezes, é o espaço onde, pela primeira vez, as crianças vivem situações de grupo e não são mais os centros das atenções, sendo que as experiências vividas nesta fase darão para um desenvolvimento saudável durante o resto de sua vida.
5. METODOLOGIA
Este projeto de intervenção pedagógica busca agregar os docentes da Educação Física e História para construção de proposta para a disseminação e reflexão da cultura afro-brasileira através da dança e história, esperando encontrar um espaço de debate acerca das práticas efetivas do espaço escolar.
Durante o desenvolvimento deste trabalho, com análise de diversos autores que escrevem sobre a dança e a cultura afro-brasileira, visualiza realizar este projeto na E M J M F com os alunos do 3º ano do Ensino Fundamental, através de aula expositiva e dialogada, encaminhamento de pesquisas, levantamento das informações encontradas, produções de texto, entrevistas com funcionários da escola e da comunidade sobre o tema em questão, exposição das atividades para os demais alunos e professores da escola e da comunidade, acróstico com a palavra cultura afro-brasileira, sendo que será enfatizada comidas típicas, confecção de um livro ilustrando a história do Zumbi dos Palmares, confecção de máscaras e esculturas de diversas tribos africanas (de acordo com os significados que lhes são atribuídos), conhecerem as obras de artistas que foram influenciados pela cultura africana, como Pablo Picasso, assistir DVD'S para discussão deste estilo de dança e conhecer outras manifestações culturais, mostrar através do filme "Kiriku e a feiticeira" um pouco da história, da cultura africana, passando esse conhecimento de forma clara, objetiva e de fácil linguagem, para que os alunos compreendam fatos comuns da vida africana e relacionem com a nossa própria cultura. Na prática será ofertada oficina de dança, desenvolvendo e aprimorando suas possibilidades de movimento, descobrindo novos espaços, novas formas, construção de coreografias e apresentação à comunidade.
Buscar através destas vivências, mudanças de postura e atitudes em relação a conceitos e práticas efetivas de discriminação, preconceito e respeito a as diferenças. Também propiciar a construção de uma consciência crítica e de valores que mudam sua existência para se tornarem seres humanos melhores.
Para finalizar, a intenção é colaborar na construção de uma proposta que pode ser aplicada e vivenciada por outros professores, acerca da experiência adquirida, que sirva também para pensar em atitudes concretas no processo educacional em relação a esta cultura.
6.CRITÉRIOS PARA AVALIAÇÃO
A avaliação acontecerá através da participação dos alunos envolvidos nas atividades propostas no projeto. Atividades como:
- Realiza pesquisas e leituras sobre o tema?
- Produz textos e participa de discussões sobre o tema?
- Demonstra, em suas produções escritas e orais, que reconhece a si e ao outro como partícipe de diferentes grupos sociais, familiares, escolares e comunitários, percebendo as diferenças individuais, estabelecendo relações de anterioridade e posterioridade?
- Consegue expressar, em suas atividades escolares individuais e em grupo, que reconhece a presença de diferentes manifestações culturais no seu cotidiano, estabelecendo relações de anterioridade, posterioridade e simultaneidade?
- Interage corporalmente com os colegas na prática da dança, com atitudes de respeito, superando preconceitos e discriminações referentes ao próprio corpo (biótipos físicos), gênero e etnia?
- Aplica os conhecimentos adquiridos na resolução de desafios corporais surgidos na prática da dança, com apoio do professor e dos colegas?
- Participa das atividades propostas pelo professor no eixo da dança favorecendo a inclusão de todos?
- Identifica a interferência cultural da dança a partir da apreciação?
- Experimenta as possibilidades de movimento e faz uso destes para recriá-los e re-significá-los?
7. DESCRITORES
Os descritores de História escolhidos para a efetivação do projeto são: Identificar as diferentes estruturas familiares existentes na sociedade hoje, percebendo a participação dos integrantes da família nos vários grupos sociais dos quais faz parte; Reconhecer seus direitos e deveres, percebendo que estão presentes nas convenções sociais – familiares, escolares e comunitárias – e em documentos oficiais; Reconhecer o ser humano, como parte integrante da natureza, numa relação de interdependência, compreendendo a importância das questões socioambientais para a sociedade atual; Reconhecer as diferentes manifestações culturais como produção da humanidade nos diferentes tempos e nos diferentes espaços, relacionando-as com o contexto local; Respeitar à diversidade cultural, étnica, religiosa.
Os descritores de Educação Física escolhidos são: Interagir, dentro do ambiente escolar, adotando atitudes de respeito, na tentativa de superar inibições e/ ou atitudes de preconceito/discriminação; Respeitar a diversidade cultural, participando de atividades trazidas pelos colegas; Reconhecer suas possibilidades de movimentação corporal, percebendo-se como único diferente de seus colegas, compreendendo e respeitando as diferenças individuais.
Veja também:

Educação, relações étnico-raciais e a Lei 10.639/03

Plano de aula: Influência da cultura africana na nossa alimentação

Plano de aula: Kit A Cor da Cultura para Professor

Planos de aula: Cadernos de História e Cultura Afro-Brasileira

Plano de aula - Palavras de Origem Africana usadas em nosso vocabulário

Kiriku e a Feiticeira

A INFLUÊNCIA AFRICANA NO PROCESSO DE FORMAÇÃO DA CULTURA AFRO-BRASILEIRA

Plano de aula - POR QUE OS HERÓIS NUNCA SÃO NEGROS?

Zumbi dos Palmares

GĘLĘDĘ NA TRADIÇÃO YORUBÁ

MANIFESTAÇÕES CULTURAIS


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8. REFERÊNCIAS
COLL, C., et al. Os conteúdos na reforma: ensino e aprendizagem de conhecimentos, procedimentos e atitudes. Porto Alegre: Artmed, 2000.
SCHMIDT. M. A. A formação do professor de História e o cotidiano da sala de aula. In: BITTENCOURT, C. (Org.). O saber histórico na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2001. (Repensando o ensino).
Boyer, M. C. (1983). Dreaming the rational city : the myth of American city planning. Cambridge, Mass.: MIT Press. Castells, M. (1976). Movimientos sociales.
GALLAHUE, D. L. & OZMUN, J. C. Compreendendo o Desenvolvimento Motor. Bebês, crianças, adolescentes e adultos. São Paulo: Phorte, 1 ed., 2001.
KLEINUBING, N. D. SARAIVA, M. C. Professores e a dança na educação física escolar: formação, resistências e compromisso. Anais do XVI Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte. Salvador, Bahia, 2009.
OLAZAQUIRRE, P. Consideracions antropològiques sobre La dansa i el moviment: algunos dels seus aspectes socials i edcatius. In: Estudis i Recerques. Educación i psicopedagogia. V.5.Actas Del Congrés d'expresió, comúnicació i práctica psicomotriz. Barcelona: Edita Ajuntament de Barcelona, 1992.
PARANÁ. Secretaria de Educação do Paraná. Diretrizes Curriculares da Educação Básica- Educação Física. 2008. .
VERDERI, Érica Beatriz. Dança na escola. Rio de Janeiro: 2ª ed. Sprint, 2000.
BRASIL. Ministério da Educação. LEI Nº 10.639, DE 9 DE JANEIRO DE 2003. Estabelece a inclusão no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira". Disponível em: http://www.ensinoafrobrasil.org.br> Acesso em: 13/04/2009.
Ficha técnica do filme: "Kiriku e a Feiticeira (veja o plano de aula)
Título original: Kiriku ET La sorcière. Gênero: Animação. Ano de lançamento (França): 1998. Estúdio: Trans Europe Film. Distribuição: ArtMann. Direção e Roteiro: Michel Ocelot. Música: Youssou N' Dour. Edição: Dominique Lefèvre.

FONTE: Portal Gelédes